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NEPOL UFJF

Câmara Municipal de Juiz de Fora tem baixa taxa de renovação e o dobro de vereadores de direita

Atualizado: 10 de out.

Camila Miranda Evangelista




A Emenda Constitucional 58/2009 determinou um número de vereadores por faixa populacional, sendo o mínimo de nove parlamentares – para municípios com até 15 mil habitantes, e 55 – para aqueles com mais de oito milhões de habitantes. Cidades com população entre 450 mil e 600 mil habitantes podem ter até 25 vereadores na Câmara Municipal. Juiz de Fora, localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, se enquadra nesse perfil, tendo uma população estimada em 540.756, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. Com base nesse dispositivo legal, a Câmara Municipal de Juiz de Fora aprovou um projeto de emenda à Lei Orgânica em 2022 para alterar o número de vereadores no município de 19 para 23. A mudança passou a valer nas eleições de 2024 para a legislatura que entra em vigor em 2025. Neste artigo apresento a nova composição do legislativo juizforano após as eleições, analisando se o aumento no número de vereadores trouxe mais representatividade para a Câmara de Juiz de Fora em relação ao gênero e perfil dos representantes. Além disso, discuto como a nova composição afeta a relação entre governo e oposição na cidade, considerando que a atual prefeita Margarida Salomão (PT) foi reeleita no primeiro turno.


 O perfil dos(as) eleitos(as)


        O resultado das eleições de 2024 em Juiz de Fora apresentou uma renovação de 21% na Câmara Municipal, 30% a menos do que em 2020, quando 52,63% das cadeiras foram ocupadas por novos atores. Isso porque neste pleito 15 dos(as) 19 vereadores(as) que concorriam à reeleição obtiveram êxito. Se levarmos em conta a expansão do número de vagas, que passou de 19 para 23, a renovação chega a 34%, ainda inferior à de 2020. Houve aumento na representatividade feminina: até o ano de 2020, o legislativo municipal contava com apenas uma vereadora; na eleição de 2020 elegeu quatro e agora cinco. O resultado das urnas também definiu a manutenção do PT como maior bancada, quatro representantes (sendo três mulheres), seguido pelo PL e PSB, ambos com três. Já o PDT, o MDB e o União Brasil elegeram dois cada. O Republicanos, o Avante, o PP, o PSD, a Rede, o PCdoB e o PV elegeram um vereador cada. Dos(as) 15 vereadores(as) que foram reeleitos(as), sete se candidataram nas eleições proporcionais de 2022, alguns tendo ficado como suplentes, como mostra o Quadro. Isso mostra como as eleições para deputado que ocorrem no meio do mandato dos vereadores os auxiliam a adquirir visibilidade e a se manterem em evidência. Esta parece ser uma estratégia utilizada por vereadores de diferentes partidos.


Quadro – Vereadores reeleitos para a Câmara Municipal de Juiz de Fora em 2024


Nome de urna

Partido

Número de votos

Trajetória política

Sargento Mello Casal

 

PL

7.590

Participou de quatro eleições entre 2016 e 2024. Foi eleito vereador pelo PTB em 2016 e 2020. Se candidatou a deputado federal pelo PTB em 2022, mas não foi eleito. Nome da direita radical, é conhecido por seu discurso antiesquerda, pauta armamentista e oposição agressiva à administração do PT.

Cida Oliveira

PT

5.884

Eleita pela primeira vez em 2020 pelo PT. É professora com uma longa história no Sindicato dos Professores e forte atuação na área da educação.

Tiago Bonecão

 

PSD

5.798

Participou de três eleições municipais entre 2012 e 2024. Foi eleito vereador pela primeira vez em 2020 pelo Cidadania. Em 2024 se elegeu pelo PSD. Foi diretor do Departamento Municipal de Limpeza Urbana e atua a favor de melhorias na infraestrutura da regiões periféricas da cidade. Sua atuação é muito vinculada ao Bairro São Benedito, região Sudeste de Juiz de Fora.

Julinho Rossignoli

PP

5.672

Eleito vereador em 2020 (Patriota). Concorreu ao cargo de deputado federal em 2022 (PP), tendo ficado como suplente. Tem forte apoio da ex-vereadora e sua mãe, Ana do Padre Frederico. Sua trajetória envolve projetos sociais e assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade.

Zé Márcio-Garotinho

PDT

5.643

Participou de cinco eleições municipais entre 2008 e 2024, tendo sido eleito vereador pelo PV em 2012, 2016 e 2020. Em 2024 se elegeu pelo PDT. Sua atuação é voltada para o planejamento urbano. Foi presidente da Câmara Municipal de 2022 a 2024.

Cido Reis

 

PCdoB

5.512

Participou de sete eleições, entre 2018 e 2024. Foi eleito vereador em 2012 (PPS), 2016 (PSB) e 2020 (PSB). Se candidatou à ALMG em 2018 (PSB) e 2022 (REDE), tendo ficado como suplente nos dois casos. Em 2024 foi eleito pelo PCdoB. Sua plataforma política tem como mote a saúde pública. Também tem atuação na zona rural.

Maurício Delgado

 

Rede

5.453

Participou de três eleições entre 2012 e 2024. Foi eleito em 2020 pelo DEM e em 2024 pela Rede. Sobrinho do ex-prefeito Tarcísio Delgado, sua plataforma política tem como foco causas sociais. 

Juraci Scheiffer

 

PT

5.353

Participou de nove eleições, entre municipais e estaduais, no período de 2004 a 2024. Foi eleito vereador pela primeira vez em 2020 pelo PT. Se candidatou a deputado estadual em 2022 pela mesma sigla, tendo ficado como suplente. Já exerceu diversas funções na Prefeitura de Juiz de Fora. Defende diversas pautas, entre elas a melhoria da infraestrutura urbana e as causas comunitárias. 

Laiz Perrut

 

PT

4.809

Participou de três eleições para vereadora entre 2016 e 2024 pelo PT. Foi eleita em 2020 pelo partido. Atua na promoção de políticas para juventude e mulheres, cultura, saúde, lazer e inclusão social. 

Dr. Antônio Aguiar

 

União

4.296

Participou de seis eleições, entre 2008 e 2024. Foi eleito vereador em 2012 (PMDB), em 2016 (PMDB) e 2020 (DEM). Se candidatou a deputado estadual em 2022 pelo União, tendo ficado como suplente. Médico pediatra, atua em favor de pessoas com transtornos do espectro autista e pessoas com deficiência. 

Pardal

União

4.282

Participou de sete eleições entre municipais e estaduais no período de 2004 a 2024. Foi eleito vereador em 2004 pelo PPS, em 2012 e 2016 pelo PTC e em 2020 pelo PSL. Em 2024 se elegeu pelo União Brasil. Atua em diversas áreas, principalmente na de infraestrutura urbana. 

Marlon Siqueira

MDB

3.955

Participou de quatro eleições entre municipais e estaduais no período de 2016 e 2024. Foi eleito vereador em 2016 pelo PMDB, em 2020 pelo PP, partido pelo qual lançou sua candidatura a deputado estadual em 2022, tendo ficado como suplente. Em 2024 retornou ao MDB. Primo do ex-prefeito Bruno Siqueira, Marlon atua na causa animal e ambiental e de geração de empregos.

Protetora Katia Franco

PSB

3.770

Eleita vereadora em 2020 (PSC). Concorreu ao cargo de deputada federal em 2022 (Rede), tendo ficado como suplente. Atua na área de proteção animal.

João Wagner Antoniol

MDB

3.652

Participou de quatro eleições entre 2012 e 2024. Foi eleito vereador pelo PSC em 2020 e foi reeleito pelo MDB. Atua na área social, especialmente educação e saúde.

André Luiz

Republicanos

3.525

Participou de quatro eleições entre 2012 e 2024, sendo duas delas no município de Nova Lima, onde foi eleito vereador em 2012 pelo PRB. Em 2020 foi eleito em Juiz de Fora pelo Republicanos. Atua na área de projetos sociais voltados para jovens em situação de vulnerabilidade.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do TSE e pesquisa na Internet.



Por outro lado, seis parlamentares foram eleitos pela primeira vez, como Vitor Paulo de Oliveira, conhecido como Vitinho (PSB), que teve 14.879 votos – a maior votação de um vereador na história de Juiz de Fora (superou a da Delegada Sheila em 2020). Vitinho já havia se candidatado a vereador em 2020 pelo PSC, mas ficou como suplente. Em 2024 ele contou com o apoio do deputado estadual Noraldino Júnior (PSB) e do candidato a vice-prefeito de Margarida Salomão, Marcelo Detoni (PSB), o que pode indicar que Vitinho se manterá aliado ao executivo municipal nos próximos quatro anos, embora tenha declarado que ficará neutro em relação à administração municipal. Nas redes sociais, Vitinho divulga o trabalho que desenvolve na defesa da causa animal, principal foco de sua campanha. 


Cabe mencionar que a defesa dos animais de estimação foi um ativo político importante para a reeleição de outros dois vereadores em Juiz de Fora: Protetora Kátia Franco (PSB) e Marlon Siqueira (MDB). Com três representantes na próxima legislatura, o cenário converge com o que vem acontecendo nacionalmente em relação ao aumento do uso da pauta pet como mote de campanhas eleitorais Brasil afora. 


Outra novidade é a eleição de Roberta Lopes (PL), que se candidatou pela segunda vez ao cargo de vereadora – a primeira vez foi em 2020 pelo PRTB. Roberta, que teve 7.924 votos, é uma liderança conhecida do Movimento Direita Minas. No Instagram, se identifica como a vereadora de Jair Bolsonaro e de Nikolas Ferreira, e divulga inúmeros vídeos de apoio de integrantes da família Bolsonaro e parlamentares do PL. Ao que tudo indica ela vem para somar esforços na oposição que o vereador Sargento Mello Casal já faz à prefeita eleita Margarida Salomão.


Jefferson da Silva Januário, conhecido como Negro Bússola (PV), também é um quadro novo. Ele já havia concorrido na eleição de 2016 pelo Patriota, tendo ficado como suplente e na eleição de 2020, quando não conseguiu se eleger pela Rede, mesmo tendo obtido uma votação significativa. Em 2024, Negro Bússola, que teve 6451 votos, compôs a coligação dos partidos PT, PC do B e PV, o que pode indicar que, na Câmara, ele será um aliado da prefeita reeleita Margarida Salomão (PT). Nas redes sociais, o vereador eleito divulga as ações culturais realizadas através do projeto social que leva o seu nome, voltado para jovens da periferia de Juiz de Fora. Ele também se identifica como evangélico.


Letícia Delgado (PT), que teve 3770 votos, também é um quadro novo na Câmara Municipal. Especialista em Segurança Pública, foi secretária municipal de segurança urbana e cidadania na gestão de Margarida. Filha e sobrinha de militantes da esquerda tradicional de Juiz de Fora. 


Além dos nomes citados, Marcelo Condé (Avante) e Carlos José, mais conhecido como Fiote (PDT), também estreiam seu primeiro mandato. Condé, que obteve 2.346 votos, é conhecido por seu trabalho como médico obstetra. Ele tem uma trajetória voltada para a área da saúde, o que se reflete em suas propostas de campanha focadas em melhorias no atendimento médico e na estrutura das unidades de saúde. Já Fiote, que teve 2.530 votos, é líder comunitário com atuação no bairro Santo Antônio.


Dois dos vereadores eleitos já haviam passado pela Câmara Municipal no passado. Trata-se de André Mariano (PL) (3.465 votos), que se elegeu vereador pelo PMDB em 2012 e pelo PSC em 2016 e João do Joaninho (PSB) (3.036 votos), que se elegeu para a Câmara Municipal em 2004 (PRP), 2008, 2012 e 2016 (DEM). Ambos estiveram envolvidos em polêmicas quando passaram pelo legislativo municipal. André Mariano é pastor da igreja quadrangular na Zona Sul, defensor de pautas conservadoras e já teve que assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para devolver recursos para o município, por prática de nepotismo. João do Joaninho perdeu o mandato após cometer crime ambiental, no caso de animais silvestres, em uma represa da cidade. À época, ele era presidente da Comissão de Meio Ambiente da CMJF.


Dos vereadores que tentaram a reeleição e não tiveram êxito, destaca-se Bejani Júnior (PSB) e Tallia Sobral (PSOL). Bejani Júnior herdou o capital político do pai, o ex-prefeito Carlos Alberto Bejani, e se elegeu vereador pela primeira vez em 2020 pelo Pode. Em 2022 ele tentou uma vaga como deputado estadual e ficou como suplente. Tallia Sobral (PSOL) foi eleita vereadora em 2020 e se tornou suplente para deputada estadual em 2022. Com a não reeleição de Sobral o PSOL deixou de ter representação na Câmara Municipal de Juiz de Fora.


A nova composição da CMJF apresentou um aumento de 100% de candidatos filiados a partidos de direita (PL e Republicanos), passando de dois vereadores para quatro. Já o número de representantes de partidos de esquerda se manteve no mesmo patamar, considerando os cinco vereadores do PT e do PCdoB. Os partidos de centro-esquerda elegeram sete vereadores, os de centro três e os de centro-direita quatro. Agrupando as categorias, a CMJF passa a ter 12 vereadores de esquerda e centro-esquerda, três de centro e 8 de direita e centro-direita.


As eleições de 2024 apresentaram considerável continuidade na Câmara Municipal de Juiz de Fora, com 15 reeleições. A fragmentação permanece alta: em 2020 12 partidos conquistaram representação no legislativo, este ano foram 13. Ainda não está claro em que medida a inserção de oito novos vereadores para compor a legislatura de 2025-2028 representará novidades em termos de pautas e representação territorial. 


A prefeita Margarida Salomão não deve ter problemas para conquistar maioria na Câmara considerando o desempenho de seu partido e futuras adesões. Mas é provável que neste segundo mandato a administração municipal venha a ser alvo de mais iniciativas de fiscalização devido à eleição da bolsonarista Roberta Lopes. No primeiro mandato de Margarida esse papel ficou a cargo quase que exclusivamente do vereador Mello Casal. 


A sub-representação feminina permanece alta na Câmara apesar dos avanços desde 2020. Além disso, a presença de mais mulheres não se traduz, necessariamente, em compromisso e/ou atuação em torno de pautas feministas ou relacionadas a direitos e políticas públicas para as mulheres. Das cinco mulheres eleitas, três são do PT, mas apenas uma tem um compromisso explícito com a pauta feminista. 


Por último, é importante destacar a surpreendente quantidade de votos de Vitinho que demonstra a força do PSB na cidade e pode indicar o surgimento de uma nova liderança de peso nas futuras eleições municipais e para outros níveis.





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