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NEPOL UFJF

Crise contínua e novo protagonismo: a COVID-19 no Rio de Janeiro


Jorge Chaloub

Departamento de Ciências Sociais

Universidade Federal de Juiz de Fora


As últimas semanas reforçaram o lugar do Rio de Janeiro como destaque negativo na gestão do Covid 19. Com 12.295 pessoas infectadas e 1.751 óbitos1 , segundo o boletim do sábado, dia 16 de maio, o munícipio fica apenas atrás de São Paulo nessa mórbida contabilidade. Os casos estão espalhados ao longo do território da cidade, que já registrou contaminados em 158 bairros e mortes em 149.


O sistema de saúde se aproximou de um colapso há cerca de 10 dias, mas encontrou um desafogo com a inauguração de mais dois hospitais de campanha e a abertura de novos 148 leitos de unidades de tratamento intensivo ao longo da última semana. Os últimos dados sobre as filas das unidades de UTI’s, divulgados no dia 12 de maio, registravam uma fila de 447 pessoas aguardando por leitos, com cerca de 100 pessoas a mais em relação à semana anterior. Ante esse cenário, a expectativa é de que a taxa de ocupação dos leitos de UTI, que chegou a 97% antes dos novos hospitais, volte a ultrapassar os 90%2 . O cenário da rede privada também merece atenção. Em 10 de maio, a Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) apontava para uma ocupação de 90% dos leitos de UTI nos hospitais privados cariocas e previa, em cerca de 15 dias, o colapso no sistema particular de saúde. O representante da entidade indicava a busca por leitos de UTI em outros estados3 .


O cenário crítico, já desenhado há algumas semanas, trouxe novo panorama para a ação das autoridades estaduais e municipais no Rio de Janeiro. Antes à frente da cena pública, o Governador Wilson Witzel perdeu espaço e destaque. Seu ocaso em parte se deve à sua dificuldade em cumprir as ações prometidas contra o avanço da pandemia. O peso do município do Rio de Janeiro na política do Estado e a grande concentração de casos e mortes na capital, 57% e 67%, respectivamente, faz do município um terreno privilegiado da ação do Governo do Estado. O Governador, entretanto, somente colocou em funcionamento três dos dez hospitais de campanha ou modulares que havia prometido até abril, disponibilizando apenas 190 das 990 vagas programadas4 .


Outro fator decisivo foram as graves denúncia de corrupção que atingiram o governo, acusado de dar continuidade ao esquema de malfeitos na Saúde há muito investigados pela Operação Lava Jato. O esquema iniciado em 2012, que tem como protagonista o empresário Mario Peixoto, teria continuado no governo Witzel, próximo do mencionado empresário desde sua campanha eleitoral5 . Como consequência das denúncias, foi exonerado no último dia 20 de abril o subsecretário de Saúde Gabriell Neves e demitido no último domingo, dia 17 de maio, o Secretário estadual de Saúde, Edmar Santos6 .


Em meio à crise do Governo Estadual, o Prefeito Marcello Crivella assumiu maior protagonismo. A redução das menções a seu aliado Jair Bolsonaro veio acompanhada de citações um pouco mais frequentes, mesmo que ainda raras, ao gabinete científico da prefeitura e medidas mais duras a favor do isolamento, que fora questionado pelo prefeito em um primeiro momento. Na segunda-feira, dia 11 de maio, Crivella tomou uma série de medidas que reforçavam o isolamento. Por meio de decreto, ele proibiu a circulação em determinadas partes da cidade, restringiu a presença de veículos em certas vias, vedou a realização de obras, com a exceção das emergenciais, e endureceu as regras para a abertura do comércio, mesmo em relação a alguns estabelecimentos que vinham operando apenas com entregas, as quais não serão permitidas mais para bares, por exemplo7 .


As medidas foram defendidas ao mesmo tempo que o prefeito anunciou um cenário mais positivo para a cidade do Rio, no qual, segundo seus dados, teria ocorrido uma redução da curva de contágio. De acordo com Crivella, “A curva, que estava em 0,06, agora caiu para 0,04”8 . O cenário mais favorável não indicaria, entretanto, a flexibilização imediata, que somente começará a ocorrer quando curva de contágio chegar a 0,01. Até lá, o prefeito reforçou a necessidade de manter e até mesmo aumentar o isolamento. Também seria fundamental continuar com o uso das máscaras, que passaram a ser obrigatórias na cidade do Rio de Janeiro a partir de 23 de abril9 . Esperemos que esse novo protagonismo perdure e que, finalmente, o município do Rio encontre um padrão estável no combate ao Covid 19.


 







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