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NEPOL UFJF

COVID - 19 em Vitória ES - pressões e flexibilização em meio à pandemia

Paulos Magalhães Araújo

Departamentos de Ciências Sociais

Universidade Federal do Espírito Santo


Os dados sobre a difusão do coronavírus em Vitória – e em todo o Espírito Santo – são atualizados diariamente. A curva de contaminação continua em ascenção, pressionando as autoridades políticas e sanitárias para a tomada de providências contra a Covid-19 nos municípios em geral, e em Vitória em particular. No momento – em 27 de maio, segundo dados da secretaria estadual de saúde – Vitória registra 2127 casos de contaminados, com 82 óbitos. Uma taxa de letalidade de 3,86%. Quatro bairros da cidade estão estão entre os 10 mais afetados pela pandemia no estado. São eles: Jardim Camburi, com 300 casos confirmados e 11 óbitos; Jardim da Penha, com 158 casos confirmados e nenhum óbito; Praia do Canto, com 154 casos confirmados e 2 óbitos; e Mata da Praia, com 99 casos confirmados e 3 óbitos.


Para enfrentar a crise, a cidade conta com 15 hospitais, públicos e privados, e 1965 leitos hospitalares, de UTI e enfermaria. No entanto, tendo em vista a integração das cidades da Grande Vitória, e a consequente migração de pacientes entre cidades, conforme a capacidade do sistema hospitalar de amparar os contaminados, é interessante conhecer os equipamentos disponíveis na região metropolitana para o enfrentamento da difusão da Covid-19. Ao todo, a Grande Vitória conta com 34 hospitais. A cidade de Vitória conta ainda com os pronto-atendimentos de Praia do Suá e de São Pedro. 


Os pronto atendimentos são Unidades não-hospitalares de atendimento às urgências e emergências com funcionamento nas 24 horas do dia. São estruturas de complexidade intermediária, entre as Unidades Básicas de Saúde e as Unidades Hospitalares de Atendimento às Urgências e Emergências. No pronto atendimento de São Pedro, em Vitória, são esperados 20 novos leitos de campanha para receber com exclusividade pacientes com suspeitas da Covid-19. Complementarmente, a secretaria de saúde do estado tem comprado leitos hospitalares de dois hospitais particulares e sete filantrópicos. Ao todo, 149 leitos de UTI foram comprados para uso exclusivo no atendimento a pacientes com Covid-191. Esse recurso, no entanto, está chegando ao fim, por esgotamento dos leitos disponíveis no sistema em geral.


Tabela I - Equipamentos para o acolhimento de pacientes com sintomas de COVID - 19 na Grande Vitória



Fonte: https://coronavirus.es.gov.br/painel-covid-19-es, acessado em 27.05.2020.


Apenas parte da estrutura hospitalar em Vitória e na Grande Vitória está voltada para o acolhimento de pacientes com suspeita de Covid-19. Parte dela está voltada para o atendimento a outros tipos de demanda. A taxa de ocupação dos leitos exclusivos de UTI na Grande Vitória é de 85% (não há dados isolados sobre ocupação de leitos na cidade de Vitória). Mesmo com as medidas voltadas para o aumento da capacidade hospitalar, os equipamentos são escassos e a estrutura é insuficiente para comportar um grande aumento no número de contaminados – embora a rede hospitalar de Vitória, segundo o prefeito, não esteja trabalhando no limite da sua capacidade2. De toda forma, o controle do ritmo de contaminação no estado, particularmente em Vitória e na Grande Vitória, é fundamental para que o sistema não entre em colapso e possa atender devidamente aos doentes. Por isso, as medidas que visam assegurar o isolamento social são estratégicas. 


O governo estadual, em parceria com empresas de telecomunicação, lançou uma ferramenta que mostra diariamente um painel do isolamento social no estado, por município. O objetivo é, com base nos dados, orientar os municípios para a flexibilização, ou não, do isolamento social. Segundo o governador Renato Casagrande (PSB), “Quanto maior o índice de contágio e o índice de letalidade e quanto menor o isolamento, maior é a possibilidade do município começar a restringir suas atividades econômicas. Todo cidadão tem uma responsabilidade com o isolamento”3. 


As taxas de isolamento na cidade de Vitória e na Grande Vitória estão em níveis bem inferiores aos 70% recomentados pelas autoridades sanitárias. Em Vitória, a média de isolamento calculada a partir de 13 de abril está em 48,7%. Na Grande Vitória a taxa é de 48% e no estado como um todo a média é de 48,5%. É nesse cenário que é possível entender as tensões associadas às políticas de fechamento do comércio em Vitória e no ES.


Há notória convergência entre as orientações do governador do ES, Renato Casagrande (PSB) e do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (Cidadania),  em relação às medidas para o enfrentamento da pandemia. Uma fala do prefeito em 13 de maio mostra o quanto a administração municipal está preocupada com a pandemia na cidade, e o quanto seu discurso é alinhado com o discurso do governador: “Nós estamos observando, junto com o Governo do Estado, em uma força-tarefa, a ocupação de leitos. O número importante é 80% de ocupação de leitos. Esse número, ao ser atingido, nós vamos ter que trabalhar outras medidas. Estamos monitorando isso com o Governo do Estado e as outras prefeituras atentamente. Então, para os próximos dias, a gente espera o crescimento da epidemia no país. O número de casos está aumentando e aqui no Espírito Santo também não vai ser diferente, mas cada estado tem a sua realidade. O Estado do Espírito Santo ainda está em uma situação de equilíbrio e nós estamos trabalhando muito para que continue assim4.


As estratégias de contenção da pandemia são consideradas dia a dia, de acordo com a matriz de risco, que é fundamentada nos dados colhidos pelo painel do coronavirus que fornece informações sobre os municípios. A matriz de risco, de forma similar à existente em Santa Catarina, classifica o risco de contágio nos municípios em “baixo”, “moderado”, “alto” e “extremo”. Vitória e algumas cidades da região metropolitana e do interior são classificadas como de risco alto. A prefeitura de Vitória assumiu essa categorização e adota políticas de combate à pandemia convergentes com ela.


Os efeitos dos decretos de emergência e de calamidade adotados em Vitória se mantêm. Com o aumento no número de contaminados e na ocupação de leitos hospitalares, a possibilidade de um lockdown está no horizonte5. Com isso, em Vitória e em outras cidades do estado há uma tensão latente entre comerciantes, empresários e segmentos da sociedade, por um lado, e as orientações do governo municipal por outro. Empresários, comerciantes e segmentos da população pressionam pela flexibilização do isolamento. O prefeito Luciano Rezende segue as orientações do governo estadual buscando atender às demandas por abertura sem negligenciar o controle da pandemia. 


Buscando contemplar ao menos parcialmente as demandas de comerciantes e empresários, com base na matriz de risco, em meados de maio foi implementado um plano de convivência, que permite a abertura gradual e alternada – de segunda a sexta-feira, de 10 às 16h – dos estabelecimentos comerciais de rua em cidades de alto risco, como Vitória e cidades da região metropolitana (as cidades consideradas de risco baixo e moderado estão com o comércio funcionando desde 22 de abril). Shoppings permanecem fechados e aulas presenciais continuam suspensas em todo o estado. O objetivo, segundo o governo estadual, com o qual o prefeito concorda, é dar continuidade ao isolamento social com responsabilização individual e não contar apenas com o fechamento do comércio como forma de contenção da pandemia. Mas o monitoramento é constante e a medida pode ser revertida em caso de aumento de casos de contágio6. O fato é que a tensão entre o governador e o prefeito, de um lado, e os empresários, comerciantes e alguns segmentos sociais, de outro, se mantém.


 


1 https://bit.ly/2ziXpNw. Acesso em 27.05.2020.


2 https://bit.ly/2XsFiMO. Acesso em 27.05.2020.


3 https://bit.ly/3gbEl4a. Acesso em 27.05.2020.


4 https://bit.ly/2XsFiMO. Acesso em 27.05.2020.


5 https://bit.ly/2X6djUr. Acesso em 27.05.2020.


6 https://bit.ly/2TQ6SD5. Acesso em 27.05.2020.


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