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NEPOL UFJF

Campinas: metrópole do interior paulista no combate à Covid-19

Wagner de Melo Romão


Departamento de Ciência Política – IFCH


Unicamp1


O município de Campinas


O estado de São Paulo e, sobretudo sua Capital, foi a principal porta de entrada do coronavírus no Brasil. Até 8 de abril, o estado registra 5.682 casos e 371 óbitos. A grande maioria dos casos e dos óbitos ocorre na Capital e em sua Região Metropolitana (RMSP).

Campinas, em conjunto com Santos e São José dos Campos, é uma das aglomerações urbanas com mais casos após a RMSP. Até 8 de abril, há 85 casos confirmados, 956 em investigação, 139 descartados e 5 óbitos. A cidade é sede da segunda maior centralidade urbana do estado de São Paulo, com 1,2 milhão de habitantes (IBGE-2019). Sua região metropolitana possui cerca de 3,2 milhão de habitantes.

Atualmente, o prefeito de Campinas é Jonas Donizette, do Partido Socialista Brasileiro, em seu segundo mandato. Também é presidente da Frente Nacional de Prefeitos.


Primeiras ações


As primeiras ações de restrição de circulação e de aglomerações de pessoas ocorreram no dia 12 de março, quando a Unicamp decidiu suspender suas aulas e eventos públicos, sendo a primeira universidade no país a tomar esta medida2. Também neste dia o prefeito criou o Comitê Municipal de Enfrentamento da Pandemia de Infecção Humana pelo novo Coronavírus3. O primeiro caso de Covid-19 na cidade foi diagnosticado no dia seguinte.

No dia 16, um dia após a confirmação do segundo caso positivo para COVID-19 no município, foram suspensas as atividades em todas as unidades educacionais integrantes da rede municipal de Campinas, bem como a suspensão de programas voltados aos idosos, como os Centros de Convivência Inclusivos e Integracionais.

No âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, foram editadas medidas como a extensão do horário de funcionamento das unidades de saúde; suspensão dos atendimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas; direcionamento do serviço telefônico “Disque Saúde Campinas – 160” ao atendimento exclusivo de assuntos relacionados ao COVID-19.

Aos órgãos municipais da administração pública direta e indireta foram impostas uma série de medidas para a contenção da infecção, assim como uma série de recomendações ao setor privado, como o trabalho remoto. Apenas no dia 21 limitou-se, de fato, a atividade privada, restringindo-a àquelas indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, quando eram confirmados 9 casos no município. Também foi declarada quarentena do dia 23 de março até o dia 12 de abril. Este prazo já foi estendido até 22 de abril. Também limitou-se os serviços de alimentação apenas à entrega. No dia 27 de março noticiou-se que os estudantes da rede municipal de educação continuariam o semestre por meio de tecnologias de ensino à distância4.

Quanto à assistência social, a prefeitura manteve os serviços de atendimento emergencial e também determinou práticas para a mitigação dos riscos de transmissão do vírus5. Neste âmbito, notamos também uma grande mobilização da sociedade civil para o fortalecimento de entidades assistenciais e com captação de recursos para a compra e distribuição de cestas básicas à população mais vulnerável.


Dificuldades na quarentena: pressões de comerciantes, religiosos e da própria população


É importante salientar que as ações do poder público no contexto da pandemia não se referem apenas à prefeitura. A pandemia mobiliza todos os setores do Estado. O Ministério Público do Trabalho, por exemplo, divulgou que vem atuando em busca de garantir direitos trabalhistas, tendo recebido 227 denúncias apenas na região de Campinas. Mais de uma centena de recomendações já foram feitas a estabelecimentos comerciais e empresas para que medidas de proteção e segurança venham a ser adotadas6.

Evangélico, o prefeito Donizette vem recebendo pressões de sua base de apoio na Câmara de Vereadores para relaxar o veto aos cultos em igrejas. Mas, por enquanto, tem mantido a suspensão. Há também certo descontrole quanto ao fechamento de estabelecimentos de comércio não essencial. O prefeito declarou que irá endurecer as regras e orientar a Guarda Municipal para multar os comerciantes que já foram notificados da irregularidade7. A identificação de aglomerações também deve ser realizada por meio de uma plataforma digital de uma operadora de telefonia, em que se permite a visualização de concentração, aglomeração ou aumento de fluxo de pessoas em determinados pontos da cidade8.


Por fim, um quadro da saúde no município


A principal preocupação no setor da saúde é com a obtenção de equipamentos de proteção individual (EPI) e com a obtenção de testes para realiza-los entre os profissionais da saúde. Para se ter uma ideia, até o momento, 207 dos cerca de 7 mil servidores mantém-se afastados de seus pontos de trabalho por apresentarem sintomas de gripe. Os testes indicariam se estão infectados pelo coronavírus ou não9.

O quadro das UTIs é o seguinte: em 8 de abril, dos 642 leitos de UTI, entre públicos e privados, 382 estão ocupados, 59,5% de ocupação. Do total de leitos ocupados, 182 pacientes (47,6%) estão em ventilação mecânica. O município, portanto, se enquadra fora daqueles que, segundo o governo federal, poderiam relaxar o isolamento social vertical.


Acompanhe a série de artigos do Nepol


1Agradeço à bolsista do Nepol Helena Malvaccini pela colaboração no recolhimento de algumas das informações contidas neste texto. 2https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/03/12/coronavirus-unicamp-suspende-atividades-de-13-29-de-marco

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