Candidaturas a vereador em 2020, do fim das coligações à concentração de concorrentes em partidos

Emerson U. Cervi

A proibição de coligações nas eleições proporcionais, experimentada pela primeira vez na história da nossa legislação eleitoral em 2020, deveria ter gerado um aumento significativo no número de candidatos a vereador. No entanto, o crescimento ficou abaixo das expectativas. Passamos de 439 mil candidatos em 2016 para 513 mil registrados em 5 de outubro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, a maior parte dos partidos não conseguiu apresentar listas completas de candidatos nos municípios (de 1,5 a 2 vezes o número de vagas em disputa, dependendo do estado). Além disso, houve forte concentração de candidatos em alguns partidos. O artigo pretende explorar os números gerais das disputas a vereador no Brasil, indicando principalmente, as diferenças em relação à eleição anterior. Em seguida são apresentadas as concentrações geográficas dos oito partidos que mais apresentaram candidatos em 2020, para indicar a existência ou não de partidos regionalmente localizados no Brasil.

No gráfico 1 a seguir as barras azuis mostram o número de candidatos a vereador apresentados por partido político em 2020, em ordem decrescente. As barras na cor laranja mostram quando o partido cresceu ou diminuiu em relação aos números de 2016. Se a barra laranja estiver acima de zero, indica o número a mais de candidatos em 2020. Se, ao contrário, for negativa, indica o número de candidatos a menos agora em relação a 2016. O MDB é o partido com o maior número de candidatos a vereador em 2020, com 41.096 registros, e apresentou um crescimento pequeno, de cerca de mil candidatos em relação à eleição anterior. Na sequência aparecem consecutivamente PSD, PP e DEM e todos os três com aumento superior a nove mil candidatos cada um em relação a 2016. O PSDB é o quarto colocado em número de candidatos a vereador, no entanto ele apresenta uma queda de cerca de dois mil candidatos. Depois aparecem o PT, Republicanos e PDT, todos com crescimento no número de inscritos. 

Gráfico 1 – Número de candidatos a vereador por partido em 2020

Ao somarmos os candidatos desses oito maiores partidos ultrapassamos 256 inscritos, o que representa mais de 49% do total de concorrentes. Os outros 25 partidos que inscreveram candidatos são responsáveis pela metade dos candidatos. Isso mostra como, apesar do número de siglas, houve uma concentração de concorrentes em alguns partidos.

A imagem a seguir mostra a distribuição dos percentuais de candidatos por município para cada um dos oito partidos com maior número de concorrentes. É usado o coeficiente Gi de localização para a formação de clusters espaciais. A cor vermelha mostra os locais em que o partido apresenta alto percentual de candidatos em municípios que são vizinhos. A cor azul, ao contrário, mostra as regiões de vizinhança em que o partido apresenta baixo percentual de candidatos em municípios vizinhos. O objetivo é identificar clusters de presença dos partidos por região do país. Como esperado, os partidos com mais candidatos apresentam poucos clusters. Se somarmos o número de municípios com “alto” e “baixo” percentual de candidatos, teremos pouco mais de mil municípios para cada sigla. Isso significa que para outras quatro mil não há formação de cluster local. No entanto, as áreas de concentração de candidatos dos partidos variam entre as siglas.

Figura 1 – Clusters municipais de candidaturas a vereador por partido

MDB (alto=582, baixo=664)PSD (alto=478, baixo=709)
PP (alto = 635, baixo= 730)DEM (alto=461, baixo=896)
PSDB (alto =463, baixo=839)PT (alto= 559, baixo=626)
REPU (alto=334, baixo=993)PDT (alto= 555, baixo= 890)

No caso do MDB, há maior número de candidatos entre o norte do Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina, além do interior de Piauí. O PSD é um partido com maior densidade de candidatos a vereador no interior de estados da região Nordeste. O PP tem concentração de candidatos a vereador no Rio Grande do Sul e em municípios do Piauí e Bahia. Já o DEM apresenta grande percentual de candidatos em estados do Centro-Oeste, em especial Goiás e Mato Grosso. O PSDB apresenta mais candidatos a vereador entre o extremo oeste de São Paulo, Mato Grosso do Sul e interior do Ceará. Já o PT concentra candidatos no interior do Rio Grande do Sul e de estados do interior da região Nordeste. O Republicanos é o único partido, entre os grandes, que apresenta concentração de concorrentes em municípios da região Norte do país. Por fim, o PDT apresenta mais candidatos em municípios do Ceará e do Rio Grande do Sul.

Como se percebe, há relação entre número de candidatos a vereador e região de influência de lideranças políticas do partido, em especial no caso de governador. Como é o caso do DEM em Mato Grosso e Goiás, do PT no Nordeste e do PSDB no interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Mas também há relações com lideranças regionais, como é o caso do PDT no Rio Grande do Sul e Ceará e do MDB em Santa Catarina. Em resumo, não há apenas uma lógica interna na concorrência às 57 mil vagas de vereador no Brasil. As candidaturas por partido também se organizam em função da existência de lideranças regionais dos partidos.

Emerson Cervi é professor associado da Universidade Federal do Paraná. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública. www.cpop.ufpr.br

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